Abriu as portas do guardarroupa com uma expressão carrancuda. "É bom que você tenha algo novo para me oferecer hoje", ameaçou-o mentalmente. Dando uma rápida olhada por cima, pôde perceber que aquele dia não seria muito diferente dos anteriores, mas resolveu arriscar-se mesmo assim: começou a pegar suas peças de roupa, uma a uma, e jogá-las no que viria a se tornar uma pilha no chão do outro lado do quarto.
A cada modelito que arremessava, repassava mentalmente os motivos: "usava no dia em que nos conhecemos", "usava quando demos nosso primeiro beijo", "estreei naquela festa na casa dele, tão boa...", "ele disse que fico bem com essa cor, combina com meu cabelo", "usava no nosso primeiro aniversário de namoro", (...) "usava no dia em que paramos de nos falar"...
Por fim, jogou novamente a pilha de roupas no guardarroupa, sentindo-se preenchida por uma frustração que já era esperada. Bateu ambas as portas como quem se cansa de um jogo e empurra as peças para longe, enfezado. Com pisadas duras, caminhou até a própria cama, onde deixou cair o próprio corpo e, cruzando os braços na altura do peito com uma expressão emburrada, pensou consigo: "Pelo visto, vai ser outro dia de pijamas em casa."
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