domingo, 14 de abril de 2013

A mensagem

Depois da briga, sequer haviam trocado palavra. O motivo do desentendimento assim exigia. Ela o amava, ele duvidava. As coisas nunca dariam certo se seguissem dessa forma.
De todas as maneiras, dia após dia desde que haviam se conhecido - numa festa qualquer, dessas que vamos para acompanhar um amigo ou para não ficarmos fitando as paredes vazias em casa ou simplesmente porque o destino assim o quis e preparou - ela tentava demonstrar seu sentimento, fosse através de uma mensagem, um beijo, um abraço, uma brincadeira boba na frente dos amigos dele...
Acreditara que depois de todo esse tempo ele já soubesse a importância que tinha para aquele coraçãozinho de menina, mas não sabia. Pensara consigo mesma que ele já soubesse o quão sincera ela sempre fora e que nunca precisaria desconfiar de uma só palavra que partisse daquela boca rosada de batom, mas não sabia. 
Agora ali se encontrava, fitando as roupas jogadas em cima da cama, sem pretensão de vestir um pijama que fosse. Movia-se lentamente, como se cada gesto lhe custasse demasiado, e pensava. Imaginava. Onde estaria ele naquele momento? Na segurança de seu lar, ela esperava. Mas não saberia. Pela primeira vez, não saberia.
A questão era que, desde que se conheceram, haviam adquirido o hábito de informar ao outro quando chegavam em casa depois de sua viagens noturnas, para evitar que se preocupasse. Era sempre assim. Mas naquela noite, pela primeira vez, ela não esperava por isso.
Esperaria, se ele soubesse o quão transtornada ela estava com a possibilidade de que algo acontecesse - um acidente na estrada, quem sabe? Aquelas ruas escuras, aquela cidade violenta, o cansaço com que ele dirigia por tantas horas... -, mas não sabia.
Então jogou-se na cama. O peso de suas preocupações deveria estar atuando sobre ela mais do que imaginava, porque a cama pareceu afundar. Talvez quisesse que tudo afundasse mesmo num abismo sem fim, por que não? Talvez assim a dor se fosse... Se ao menos ele soubesse...
Entretanto, ao ver que do chão não passaria, tratou de se preparar para dormir. Pegou o celular para programar o alarme que a acordaria para mais um dia cinza e paralisou ao ver que recebera uma mensagem. Dele
"Cheguei em casa já, acho justo avisar..."
Era curta e fria, mas significava mais para ela do que qualquer um poderia imaginar. 
Ele sabia.


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