Tudo estava bem. Desde o dia em que primeiro haviam se tocado, menina e boneca não mais se desgrudavam. Em toda a vizinhança, jamais se vira amizade igual àquela e isso se devia ao fato de a vontade de estar perto partir de ambos os lados.
Entretanto, como nada dura para sempre, chegou o dia em que a boneca se recusou a brincar. Sem motivo aparente, correu para o quintal, pedindo espaço.
Preocupada, a menina tentou ir ao encontro dela para saber o que se passava, mas aquela que por tempos fora sua maior companheira agora a olhava com desprezo e pedia que se mantivesse longe, sob a pena de fugir pelo portão e nunca mais tornar a entrar em casa. Com medo de perdê-la, a menina voltou para dentro e esperou.
Dia após dia, via-a sentada no quintal. Observava-a, com lágrimas nos olhos, através da janela da sala e pedia mudamente que ela voltasse. Chegou até mesmo a escrever no vidro alguns recados, esperando que isso a comovesse e a fizesse voltar, mas nada funcionou.
Depois de um tempo, nem mesmo a boneca sabia mais porquê correra para longe. Mesmo assim, lá permanecia. A menina, que já perdera a conta de quantas vezes tentara fazê-la voltar, cansou-se daquela cena toda e, tomando para si a posse de um pouco de coragem e da chave da porta, trancou-a, deixando do lado de fora apenas um bilhete singelo que informava:
"Se resolver voltar, terá que pedir permissão para entrar."
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